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sexta-feira, 15 de março de 2013

Te escrevo.

Me guarde para a última página do livro. 
Todavia, serei leal à sua espera. 
As ondas me acompanharão enquanto 
você desvenda com o piscar das pálpebras 
novas histórias.
Choro todas as noites
 e você me chega cabisbaixo 
não querendo admitir tristeza. 
Te escrevo sobre nós agora para tentar achar uma saída. - Pela porta da frente. 
Te escrevo para pensar em nós dois juntos nessa vida,
e em outras sete caso nos encontremos.
Escrevo pra te ver velejar, amor. 
Escrevo ainda para mostrar 
o quanto os nossos desentendimentos são insuficientes
 para nos fazer mudar de rua. 
Escrevo para você que nunca lê,
embora saiba que esse meu caderno é seu.
Te escrevo para te dizer coisas
 que jamais entenderá 
porque sou a maior parte das nossas complicações
 e o meu silêncio se explica 
em todas as palavras que não falo, mas escrevo. 
Vejo do fundo do seu livro um mar inocente. 
Tudo muito sem luz. 
Tudo muito sem você. 
Então, escrevo. 
Para dar um pouco de brilho ao mar e a nós, te escrevo.
Destino-te todo o meu interior. 
_
O nosso passado morreu de overdose.
Em memória, esses versos. 

Queria ter vivido no fundo do seu mar. 
Hoje, você navega em meus olhos.

Aos escritos e destinatários.


Tatiane Salles.

terça-feira, 12 de março de 2013

Meia dose.

Acena de bem longe e muda de calçada. 
Muito de tudo o que já existiu 
se perdeu com o vento atípico de ontem, talvez... 
Nós também. 
Na altura do campeonato, 
a única diferença é que você ainda aparece vez em quando
 para vistoriar um terreno aqui ao lado.
 Essas suas idas e vindas são interiormente congestionantes, 
porque na maioria das vezes você passa pelo meu jardim. 
E quase seca as roseiras com os olhos, 
e quase rega a grama com meia dose de saudade-ácida, 
e quase abre a janela pra sentir de perto esse meu cansaço que coagula, 
e quase grita que ainda me ama. 
Eu de dentro também quase grito. 
Nós paramos quase sempre no "quase". 
Qualquer dia desses te digo, 
que você cheira flores quando me vêm cumprimentar 
e falar brevemente das suas trivialidades com a vizinha, amor. 
Espero que sua fragrância mude com o tempo também.
_
Mas antes de tudo,
eu só queria saber 
como me desprender definitivamente 
das suas alvoradas.

Aos quase...  


Tatiane Salles.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Plágio exato.

Você é tudo, 
menos o que me faz dormir tranquilamente. 
Tem sido assim desde que, 
daqui, comecei a lhe enviar substâncias toxicas. 
Não as recebe a tempo previsto 
porque o seu código de barra 
é um plágio exato do meu endereço
que as fazem retornar. 
Acho crime quando o resto do mundo é mundo, 
e eu sou politicamente de você. 
E quando não, tempestade. 
Todo chão é mais escuro.
Toda parede, psíquica.
E a cidade inteira mural das nossas insanidades sentimentais.
A minha lápide também será um dia, amor. 
Eu poderia mover sete montanhas  
com o que flui por de trás das paredes secretas do meu interior,
quando você bate à porta.
Ás vezes sinto que estamos no mesmo nível,
porque a sua esporacidade me aquece.
Outras que seu suor tem cheiro forte de incenso.
Nota-se quando desloca sem paradeiro para longe. 
Perdoo a sua pronuncia errada ao falar meu nome, 
pois os nossos por coincidência fazem par. 
Nessa casa, ninguém desejá-nos o contrário.
Sonhamos de olhos abertos, 
deveras porque possuímos um prato cheio de abstinência 
nessa alma conjunta, incolor e ociosa. 
Que saturada, nos pede pra voltar.
_
A qualquer momento, menos agora.

Não jogue fora meus papéis,
foi pra te amar um pouco mais que escrevi sobre os nossos olhos.

A segunda pessoa.
Aos plágios exatos.


Tatiane Salles.