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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Gradiente.

todas as coisas estão fadadas a alteração da matéria
e eu suportei sua metamorfose
dentro do meu mais pacífico holocausto.
a borboleta que tenho receio em tocar
hoje.

cada parte que se dissolvia era um espaço a mais
para uma valsa
ou um voo.
as dores lancinantes se transformaram em algumas cicatrizes
meio à outras cicatrizes que eu sequer recordo
como foram ocasionadas.

o ser humano é um degradê de esperanças e feridas, vê?
me submeti à instabilidade dos seus cinzas
e foi a pior viagem
com a melhor companhia
que eu jamais tive.

admirei olhos castanhos e céticos,
mas sabia que te olhar era me olhar
e não possuía certeza se gostava do que via.
sobretudo, sempre quis descansar em suas esferas.
porto seguro.

continuo achando que provavelmente somos o mesmo lado do equilíbrio,
porém é tão efêmero acreditar que você é yin e eu sou yang, tão.
ambos sabemos que não estamos ligados,
de nenhuma forma,
só nos parecemos.

no arco-íris,
no terremoto,
na carta-branca,
no “não se mate",
no xeque-mate.

é improvável que a gente se esbarre
em um conserto de Knopfler
quinze ou vinte anos à frente
e tome três doses de um destilado qualquer,
admirando juntos o quanto poderíamos ter vivido.
é improvável que a gente viva alguns quinze ou vinte anos à frente.
é mais provável crer que, certamente, eu descobrirei que não te amo
tanto como penso e que você se tornará uma das cicatrizes
que eu não me lembro
como consegui.

Tatiane Salles.