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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Fabulosamente juntos.

Amanheceu. Finalmente amanheceu.
Chovia fininho lá fora, chuviscou a madrugada toda. Sem querer chover, sem querer. Senti isso ao ver os nossos nomes escorrendo pelo chão frio e grosseiro da avenida Alameda 7, rua essa que faz divisa com o meu edifício. Prédio que é o meu único refúgio, quando da janela, faço parte da chuva todas as noites. Fico observando eu e você desfilando num mesmo compasso de passos, num mesmo intervalo de tempo. Eu gosto quando chove, sabe? Gosto mesmo. Só não gosto de ver desperdiçar um liquido tão puro só pra me fazer lembrar que acabamos sempre no final de cada esquina. Num esgoto fedido no qual aquela água limpa se deságua junto a nós, se eu faço isso todos os dias com os olhos, sem agredir o ambiente. Sem cobrar taxas mensais da população.
Não posso te matar por essa chuva que caí mais de mim do que das nuvens do céu. Não posso. Não posso esquartejar seu íntimo, nem te odiar pelas centenas de vezes em que eu disse baixinho pra mim que te amava. Não posso acabar com você se as nossas coincidências agora são viáveis o bastante para acabar por nós. O número da minha avenida é 7. Tivemos sete vidas em uma, coração. Essas sete vidas não morreram por acaso. Não fomos par coincidentemente.
Nós dissemos "tchau" fabulosamente juntos naquela madrugada. Nós não queríamos dizer.
Nos dispersamos com os nossos olhos e ainda chove forte dentro do meu quarto. Sabemos o quanto perdemos em todas essas vidas que se resumem a duas, as nossas. Quantas coisas bonitas se difundiram com o passar dos dias secos sem a intolerável falta de nós. Quantas sementes fomos impedidos de fazer germinar e quantas árvores deixaram de florescer por nossa causa. Nós sabemos e nunca protestamos. Se o vento que vem com a chuva forte que caí em mim, fosse mais forte que o sentimento que nos une, talvez varreria tudo de vez. Talvez. E ironicamente é essa mesma metamorfose de vento que acaba conosco um pouco mais a cada dia e nunca tem fim. Você faz não ter.
O escuro, o frio e o silêncio da minha madrugada são os mais penosos. As regras do que, juntadas as ordens de como... São devastadoras. Não te ver com frequência é um vácuo depressivo. Estar contigo e não te ter inteiramente é incalculavelmente debilitante. Somos a impotência do veneno, exceto quando o antídoto é para salvar as nossas outras sete vidas, em outra vida. Let's meet. E que por essas não quero que chova, não mais de madrugada.

A água da chuva.
Aos estados e sentimentos em que nasce.


Tatiane Salles.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Por uma noite.

Adormeci pensando em te escrever, e aqui estou.
Puderá também existir versos meus sem vos incluir.
E se existir, eu realmente ainda não os conheço.
Infeliz ignorante sou.
Que não conhece os próprios versos, nem você, nem eu.
Mas que sabe que nós dois só existimos aqui
Nesse amontoado de palavras que eu solto vez em quando
E que me fazem momentaneamente feliz.
Eu só queria que soubesse que não é bem isso.
Tudo a minha volta é triste, acredita em mim?!
Que o fato de sermos só palavras me faz coçar o nariz todas as noites
E que eu não queria me implodir sempre por esse motivo, sabes que não.
Eu só queria estar ao meio, mas com algo que me completasse.
Aqui ao meu lado, aqui bem perto.
Aqui.
E esse algo poderia ser...
Se te evito, te ignoro e te mato todas as vezes sem motivo
Provavelmente eu só queira te ter comigo, por uma noite, só uma noite.
Pra me conduzir nessa valsa que você nunca soube dançar.
Ou, pra brigar comigo por aquele dia 
Que eu me desconectei do mundo sem lhe deixar um beijo.
Pra falar de comida, futebol, ou, até das árvores da sua rua.
Pra comentar do seu dia e dos anéis que você costuma dar.
Pra te chatear com o meu ciúme e por tudo o que eu te digo, 
Sempre indiretamente.
Pra me contentar com seus sucessivos sorrisos
E com a nossa espontaneidade singular.
Pra você ser marinheiro comigo, nessa canoa pequena feita pra dois.
Pra realizarmos ao menos metade dessas vontades.
Pra'eu ocupar a noite inteira contigo e não ter mais tempo de coçar o nariz.
Pra se lembrar para sempre, 
Que um dia céu e mar reuniu-se por nós dois, o que hoje se faz sem nós.

Aos que existem só em um mundo.
Aos que se privam de todos.


Tatiane Salles.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Construção.

A distância muda, ressente,
O que se distancia jamais volta ao ponto anterior.
Como pérolas quebradas, nós nunca seremos os mesmos.
Nunca mais, meu bem.

Reconheço também que tenho o poder de decidir quem fica
E principalmente, quem vai.
Mas nesse caso, deixemos o vento varrer.
Já me estremeci deveras além com as nossas plantas e memórias.

Porém, vasculhando estradas, vielas e destinos tantos,
Descobri que o melhor lugar é a onde habita corações.
E por isso, creio mesmo que essa seja a melhor construção.
Creio muito que ainda quero, que quero crer.

Aos que habitam.
A tudo o que há.


Tatiane Salles.